No outro dia, estive a assistir a um workshop de Teal Swan, uma líder do Novo Pensamento especializada em desenvolvimento humano, relações e cura de traumas. Durante o evento, ela definiu TRAUMA como qualquer experiência não resolvida que causou angústia, aflição ou sofrimento. Esta experiência pode ser vivida através de um momento único, como um acidente de carro, ou uma experiência continuada (algo que se vive repetidamente por um certo período de tempo), como a ausência de um pai, o que também se pode chamar de trauma crónico.
A Normalização do Trauma
É quase certo que qualquer um de nós consegue identificar um momento da sua infância em que se sentiu aflito, angustiado ou com medo. Uma experiência que, à distância, pode parecer sem importância, mas que influenciou a sua personalidade, decisões, trajetória de vida e até a forma de ver o mundo. A nossa versão adulta tende a relativizar essas emoções sentidas pela criança interior ou, pior, normalizar o trauma vivido. A mente adulta, mais desenvolvida e madura, não sente o trauma com a mesma intensidade e acaba por minimizar a experiência, sem acolher a dor da criança que fomos.
Consequências da NORMALIZAÇÃO
Normalizar o trauma é uma estratégia para evitar a dor, minimizando-a. Contudo, ao justificarmos a ação, minimizamos o impacto do trauma e das emoções sentidas, principalmente das necessidades não atendidas, vistas ou ouvidas no momento. A validação emocional é o primeiro passo no processo terapêutico. Acolher a criança interior e admitir que a situação vivida foi dolorosa é crucial para a cura. Muitas vezes, o mais difícil de ultrapassar é o trauma emocional. No caso de um abuso, não é a memória da situação em si que causa dor, mas a sensação que a criança sentiu, de insegurança e não-proteção, por parte daqueles que falharam nesse papel (os pais). Associado ao factor desilusão - não posso confiar em ninguém!
A Fragmentação e seus Efeitos
No momento do trauma, o subconsciente desenvolve formas de adaptação ao stress ambiental, como um mecanismo de sobrevivência e autoproteção. Teal Swan chama isso de FRAGMENTAÇÃO, um mecanismo de escape para evitar a dor e o desconforto, proporcionando um conforto psicológico ilusório. Uma criança que se vê privada da atenção dos pais (devido a uma separação do casal, por exemplo) pode desenvolver independência extrema como uma forma de autoproteção, para não sentir a falta daqueles que sempre tiveram ali. Na vida adulta, essa pessoa torna-se resiliente, independente e com tendência para enfrentar os desafios da vida normalmente sozinha, sem nunca pedir ajuda. Mas sentir constantemente o ‘peso do mundo sobre os seus ombros’ e achar que não pode contar com ninguém, pode tornar-se bastante desgastante a longo prazo, até para a sua saúde.
Por outro lado, este mecanismo de fragmentação, faz também com que às vezes adoptemos comportamentos em que infligimos a nós próprios o mesmo tipo de acção que o outro teve para connosco, para assim evitarmos que voltem a repetir esse padrão. Por exemplo, ser o primeiro a abandonar a relação para evitar o risco de ser abandonado pelo o outro, assim como o pai lhe fez em criança.
A Necessidade de Relações Saudáveis
Nós somos seres relacionais, com necessidade de dar e receber, de pertencermos e de nos sentirmos suportados. Viver com a crença limitante de que não precisamos de ninguém ou que é arriscado confiar nos outros não é saudável. Triggers na vida adulta, como uma doença ou uma separação, podem ser chamadas de atenção para traumas não resolvidos. Convidar conscientemente esses traumas a serem vistos e revisita-los permite não só desassociarmo-nos da dor, como aceitar manter apenas os aspectos positivos desenvolvidos a partir do trauma.
Papel de Vitima v. Superação
Validar a emoção e reconhecer que o outro falhou connosco não significa adotar um papel de vítima e simplesmente culpá-lo pela sua falha. Superar traumas é possível e existem muitos exemplos de pessoas que transformaram as suas histórias de vítimas em histórias de superação. “A cura não é mais que a transformação de padrões, transformar o padrão para o seu estado natural ou para o oposto do que era antes” – diz Teal. Exemplo, partir um osso v. curar um osso; sentir-se sozinho v. sentir-se conectado; incompreendido v. ser compreendido. O ideal, será passarmos por esse processo de uma forma consciente, para que a transformação seja mais rápida e leve.
6 Etapas de Resolução do Trauma
Identificar ou reconhecer o trauma
Entrar em contato com as necessidades não satisfeitas
Apoiar e validar a criança interior
Entender que parte da personalidade foi desenvolvida como forma de autoproteção (fragmentação)
Resignificar a experiência, identificando aprendizados e qualidades desenvolvidas
Reprogramar crenças limitantes, desassociação da dor e integração dos aprendizados
Conclusão
Reconhecer e validar os traumas vividos é um passo essencial para a cura e o desenvolvimento pessoal. Através de um processo consciente, é possível transformar padrões negativos e viver uma vida mais leve e saudável. Convido-te a refletir sobre as tuas experiências e iniciar esse processo de cura, acolhendo a tua criança interior e validando as tuas emoções. Eu estou por aqui para te ajudar nesse processo, se assim o sentires!
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